segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Renault Duster Oroch Dunamique 2.0 - TESTE

Percorremos mais de mil quilômetros com a picape de R$ 72.490, que inaugura segmento das médias-pequenas com custo-benefício atraente

Renault Duster Oroch no litoral de Santa Catarina (Foto: Julio Cabral/Autoesporte)
Chega a ser irônico o fato da Renault batizar a sua nova picape com o nome de um povo siberiano que está para cair do telhado, Oroch. Afinal, o fabricante aposta em um segmento que está longe de se encaminhar para a extinção, muito pelo contrário. As picapes respondem por 13% do mercado total, dividido entre 5% para as médias e 8% para as pequenas. A francesa aposta justamente na coluna do meio com Oroch, o que nos motivou a voltar do evento de pré-lançamento no Balneário Camboriú, Santa Catarina, ao volante da Oroch Dynamique 2.0 de R$ R$ 72.490. Foram mais de mil quilômetros entre a viagem, pista de testes e a convivência em São Paulo (SP).

Desde que foi revelada por Autoesporte ainda em 2013, a picape Renault apareceu por aqui detalhadamente. Ainda assim, não custa nada relembrar que o utilitário inaugura o uso do monobloco nas médias. Picape média com carroceria em peça única não é novidade desde que a Honda lançou a Ridgeline nos Estados Unidos faz quase dez anos, mas no Brasil, a Oroch foi a primeira. Embora use a mesma base ampliada do Sandero e do Logan, a picape se beneficia por ser baseada no bem maior Duster. Inclusive, é mais natural afirmar que a Oroch inaugura o conceito de picape média derivada de crossover e não de carro de passeio.

Construção monobloco é o destaque da Renault Duster Oroch (Foto: Julio Cabral/Autoesporte)Isso ajuda a explicar o porte. São 4,69 metros de comprimento, 36,4 centímetros a mais que um Duster, enquanto o entre-eixos foi de 2,69 m a 2,82 m, 15,5 cm de incremento dedicados mais ao espaço de carga. É quase o mesmo tamanho de uma Ford Ranger cabine simples 1994 (4,68 m), o que a deixa com o porte das antigas picapes médias. As novas picapes médias se tornaram grandes, uma Ranger chega agora aos 5,35 metros, grandes o suficiente para serem medidas em pés como uma embarcação.

A Renault novamente encontrou um nicho de tamanho, como foi com os compactos fermentados Sandero e Logan. E vai ficar tranquila nessa faixa de porte e preço, já que a FiatToro ficará mais próxima dos 5 metros, no meio da régua entre a Oroch e as picapes grandes.
Foi muita pesquisa para não tomar logo de cara o caminho de outras picapes de fabricantes que resolveram tirar a sorte no segmento, como o finado e igualmente curiosamente batizado,Peugeot Hoggar. Para começar, a Renault optou pela cabine dupla, onde está a maior parte das vendas. De 2012 para cá, as cabines duplas passaram as estendidas nas concessionárias e chegaram a 67 mil carros em 2014 - olha que a Volkswagen Saveiro Cabine Dupla começou a ser vendida só em setembro daquele ano. O segmento cresceu um bocado nesta última década, pulou de 2,8% para 7,1% de participação no primeiro semestre de 2015. Só de 2010 para cá cresceu mais de 60%. O ritmo de crescimento é a cara da riqueza. Em comparação aos carros de passeio, as picapes compactas cresceram nove vezes mais em vendas entre 2010 e 2014.

De acordo com a Renault, exatos 99% dos consumidores de picapes nunca levam mais de 600 kg - incluindo os que usam para o trabalho. Por isso mesmo, a Oroch teve capacidade de carga medida por essa risca. São 650 kg de capacidade total e 683 litros de volume. Quem precisar de capacidade de carga maior, terá que buscar uma média convencional ou esperar pela Fiat Toro, que deu o ar da graça em um teaser liberado justamente durante o lançamento da Oroch. Pura coincidência, temos certeza. 
Para aqueles que precisam de apenas um pouco a mais de espaço para levar coisas mais volumosas, mas nem por isso mais pesadas, há o extensor de caçamba, tão versátil que poderia ser anunciado pelo Polishop. Além de ampliar em 300 litros o volume e abrir dois metros na diagonal para uma moto pequena, o extensor vira rampa para colocar o veículo no compartimento, pode ser virado para dentro para criar um nicho e, se retirado, também serve como mesa. Aliás, a tampa aguenta até 80 kg de peso e há oito ganchos de amarração.

Justamente por terem ficado de olho no que vende e o que encalha no segmento, a Renault decidiu lançar a Duster Oroch apenas na versão 4X2, tração 4X4 ou câmbio automático ficarão para um futuro próximo. Uma pena, pois seria um ponto no qual a picape se destacaria logo de cara por introduzir a tração 4X4 sob demanda em um patamar de preço em que as picapes pequenas só possuem tração dianteira. Os pneus são de uso-misto, Michelin LTX Force 215/65 R17.
Na serra, o equilíbrio dinâmico da Duster Oroch é bem diferente de uma média normal (Foto: Julio Cabral/Autoesporte)
Quanto ao estilo, ficou a sensação de que os para-lamas bojudos do Duster caíram como uma luva. Os para-lamas traseiros ganharam continuidade até a traseira, enquanto as lanternas em LEDs são bem diferentes das lanternas verticais ao estilo Kombi do original. Mesmo que não tenha adotado os para-choques mais robustos do conceito, que teriam equilibrado melhor o volume traseiro extra, não há aquele jeito flagrante de adaptação. O projeto contou com muitas modificações estruturais e se vale da base do utilitário até a seção central, a partir daí é tudo novo.

Impressões ao dirigir

A seção traseira, inclusive, conta com suspensão traseira multilink, que consegue equilibrar bem o compromisso entre conforto e capacidade de levar a casa nas costas. O arranjo só está disponível no Duster 2.0 4X4. Ao rodar com mais de 400 kg, o comportamento dinâmico foi preservado. Em relação ao crossover, todos componentes foram reforçados para aguentar mais carga.

Na cidade, a picape tem rodar firme de Duster, porém com capacidade de perdoar imperfeições que são amplificadas nas picapes maiores. Aliás, você só lembrará que não está em um Duster praticamente na hora de estacionar, momento no qual a média-pequena mostra que é bem mais prática do que uma média convencional.
Ao rodar pela BR-101 no caminho de volta a São Paulo, a serra entre Joinville e Curitiba foi vencida com facilidade a despeito da chuva torrencial que nos seguiu a viagem quase que inteira. A tração dianteira dá uma dose a mais de segurança em situações de baixa aderência, onde as picapes maiores de tração traseira podem lhe recompensar com sustos ampliados pela direção lenta.
Posição de dirigir é apenas um pouco mais baixa do que a de uma média (Foto: Marcos Camargo/Autoesporte)
Embora não ofereça a mesma sensação de estar em uma ponte de comando, a posição de direção da Oroch é suficientemente alta (fica uns 13 cm abaixo das médias) e não parece ter sido artificialmente elevada como em algumas pequenas. Dá para ter a sensação de olhar sobre os carros mais baixos, como um suricato no trânsito. Por outro lado, em ergonomia, a herança do Duster atrapalhou, exemplos da direção ajustável apenas em altura e do comando do retrovisor ainda aprisionado abaixo da alavanca do freio de mão.

Mesmo que não sejam tão macios quanto em uma picape compacta, a direção e câmbio são macios perto da queda de braço exigida pelas grandonas. Ao longo da viagem, foi possível ver as vantagens de ser derivado de crossover. A Oroch não oferece o mesmo vão das médias, mas o espaço interno é bem melhor do que nas compactas, que levam cinco pessoas com aperto, caso da Volkswagen Saveiro, e não possuem acessos tão fáceis ao interior. Afora isso, mesmo que seja mais vertical do que no utilitário, o encosto do banco traseiro permite conforto em longas jornadas.

Como se trata de um veículo de carga, a Renault levou em consideração o peso extra e reduziu a relação final do modelo 2.0 testado, que conta com as mesmas relações para as seis marchas do crossover, porém com redução de 4,44:1 contra 4,13:1 do Duster. No caso do 1.6, onde a falta de força pode ser mais crítica, eles mantiveram a relação final e o escalonamento das três primeiras marchas, consideradas curtas o suficiente, enquanto a quarta e quinta foram alongadas.

Diferentemente das picapes médias, que precisam de mais do que um 2.0 aspirado para andar forte, a Oroch combina bem com o conjunto. Na pista, a picape Renault foi de zero a 100 km/h em 10,1 segundos, apenas 0,3 s a mais que o utilitário com a mesma mecânica. Isso dá a ela uma agilidade urbana invejável. A direção é mais esperta do que a média das demais picapes, o que permitiu um diâmetro de giro de apenas 10,7 metros.
Na hora do posto, a Oroch poderia ter sido mais econômica (Foto: Julio Cabral/Autoesporte)
Ao pegar as longas subidas, toma-lhe redução. A impressão é de que a Oroch demora um pouco mais para retomar que o utilitário. Algo que depois se comprovou na pista, onde a picape marcou 8,6 segundos para ir de 60 a 100 km/h em quarta marcha, 1 segundo a mais. O peso maior pode ter influenciado. Mas em outras provas, o equilíbrio se manteve. Para estancar de 80 a 0 km/h, a picape percorreu bons 26,6 metros, face os 25,9 m exigidos pelo crossover.

Contudo, a velocidade com que o marcador começou a baixar após abastecer a Oroch com etanol deixou a pulga atrás da orelha. Mesmo com indicador de troca de marchas e sistema EcoMode, que limita a potência, torque e também a força do ar-condicionado, o consumo ficou em 7,4 km/l de etanol na cidade e 8,8 km/l na estrada. É pouco acima da sede das compactas, ainda assim bem menos gastona que uma flex média.

Custo-benefício

Em itens, a Oroch Dynamique oferece ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico (um-toque para o motorista), central MediaNAV, sensor de estacionamento, volante revestido de couro ajustável em altura, protetor de caçamba, santoantônio, alarme, computador de bordo, rodas de liga-leve aro 17, entre outros. Um pacote competitivo, ainda mais diante do fato da FiatStrada Adventure chegar bem próximo em preço. O kit Outsider com faróis extras e imitação de quebra-mato adiciona R$ 2.990. 
Por este preço, contudo, uma falha é ausência dos controles eletrônicos de estabilidade e de tração, disponíveis na gama Renault no esportivo Sandero R.S. Além de oferecer mais segurança dinâmica, as salvaguardas incluiriam o assistente de partida em rampa, ainda mais útil no caso de veículos de carga. Foram relegadas ao esquecimento também comodidades como vidros um-toque para todos e retrovisor eletrocrômico. Curiosamente, a chave da picape não é tipo canivete ou keyless, mas pelo menos é mais vistosa do que a utilizada pelos Sandero e Logan, que receberão a novidade apenas na linha 2016. 

Vale a compra?
Sim. A Oroch ficou em uma posição confortável até a chegada da Fiat Toro, que estreará apenas em fevereiro de 2016. Mesmo quando a rival chegar, a Renault tem a vantagem de começar em uma faixa de preço mais em conta, ao mesmo passo que oferece espaço interno bem maior do que uma compacta. Sem falar na qualidade de rodagem de crossover e no tamanho que não chega a fazer você passar raiva em shoppings ou condomínios novos. Se você não precisa levar a casa nas costas e não faz questão da robustez extrema da cabine sobre chassi, deixe o caminhãozinho de lado e pense no novo segmento. 
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Renault Duster Oroch
Ficha técnica
Motor: Dianteiro, tranversal, quatro cilindros em linham 16V, flex, injeção eletrônica, flex
Cilindrada: 1.998 cm³
Potência: 143/148 cv a 5.750 rpm
Torque: 20,2/20,9 kgfm a 4.000 rpm
Câmbio: Manual de seis marchas, tração dianteira
Direção: Hidráulica
Suspensão: Independente McPherson na dianteira e multilink na traseira
Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos atrás
Pneus: 215/65 R17
Comprimento: 4,69 m
Largura: 1,82 m
Altura: 1,69 m
Entre-eixos: 2,82 m
Tanque: 50 l
Porta-malas: 650 kg de carga e 683 litros  de volume (divulgados pela Renault)
Peso: 1.346 kg
Números de teste
Aceleração
0 - 100 km/h: 10,1 s
0 - 400 m: 17,2 s
0 - 1.000 m: 31,7 s
Vel. a 1.000 m: 160,9 km/h
Vel. real a 100 km/h: 98 km/h
Retomada
40-80 km/h (3ª): 6,3 s
60-100 km/h (4ª): 8,6 s
80-120 km/h (5ª): 11,9 s
Fonte: Auto Esporte

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